CENA FUGAL

Espiral de medo esculpiu o brio.

As pernas cegas, já não seguem o que me resta.

Não há pegadas nos vestígios que há de ti.

O outono chega, janela geme, e o frio gela.

Oh silvo assombro, diga a Tristeza, que eu já parti!

Em mim deixastes em escultura a tua forma.

Nunca chegastes, desejo vulto, e eu pressenti!

A tua marca, na tatuagem, a pele sangra.

Na carne quente, o beijo vento, cujo esqueci.

O luto rijo, é aonde reluto, sem mais sorrir.

Malditos prados, se o meu alado, não alça vôo...

Malditos livros! Confesso as letras, que me perdi.

A fria ausência, na indecência, nunca descansa.

O riso passa, eu juro a largo, nem percebi...

Um vago assopro, resume o torto, do que vivi...

Tua tristeza arranha o ventre intumescido.

Silencioso, espera, esconde o puro dó.

Apalpo aperto, um frágil feto, meu tato omisso.

Tingindo negro, rosário terço, rosado nó.

Partir, que parto de liberdade, de vida é só!

Nos velejares, profundos mares, vitrais e lanças.

As calmarias, são tempestades factuais.

Amor de A(mares), acasalando prisão e lembrança.

Fugal retrato, com fel amargo, nos rituais.

E a "Sombra" vive, furtando as cenas, do Amor jamais!

D.Moraes

RJ, 10-07-08

Day Moraes
Enviado por Day Moraes em 10/07/2008
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