Aqui é onde estou e vivo
"Haber amado un horizonte es insularidad;
ciega la visión, limita la experiencia.
El espíritu es voluntarioso, pero la mente es sucia."
(Dereck Walcott, poeta Caribenho de grande estilo, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura)
Não teria como encontrar-me
com um rio na avenida T-9
enquanto estamos nessa cidade
(parados no tempo)
temporariamente separados
das paisagens serenas dos bosques,
então, aqui estou,
(meu corpo de pé é a prova que vivo)
corpo que até me deixa andar, sentar e sorrir,
porém suas pegadas
adormecem enquanto piso o pó
dos dias calcinados
e eu já não posso chorar
como criança
porque meus olhos secaram, e
agora que sou homem
e tenho barba grossa e uma voz
que se assemelha ao barulho do diapasão--
(voz que tem um jeito certo de falar,
de emitir sentenças aos injustos)
porém, não vejo essa coisa como bondade,
mas sim como um elemento da justiça que há em mim,
suspiro que se desdobra pela manhã
Fabril
em Aparecida de Goiânia,
pela Br 153,
pela Gávea,
pelos Centros das cidades sub-urbanas do Brasil,
muito distante de onde me sento e escrevo agora
coisas que se não olho
sinto com as mãos,
e posso tocar cabelos de vento
(já que sigo a moda e os padrões normais)
portanto aqui estou,
envolto na toalha que minha mãe lavou
de frente para o mundo
que está longe
do que está vivo.
Leo Linares