CANÇÃO DA ÁRVORE

O campo inteiro cobre-se de flores...

E seus espinhos forram-nos de dores...

E, na incerteza da minha aventura,

As minhas tenras hastes, fragilmente,

Vão romper a terra dura... Imatura,

Minha pequenez se faz notar...

Sinto-me só, mas inda fico lá,

Perdida entre pedras e segredos

Vou desfolhando todos os meus medos...

O sol ardente faz-me amolecer,

Sinto-me fraca, vou desfalecer,

Entanto mais me sinto presa ao solo...

Nessa esperança de manter-me firme

Eu vou crescendo, vou multiplicando,

As folhas novas vão brotando em mim...

O vento forte vem dobrar-me ao meio,

Mas o sereno me umedece o leito.

E entre o sol, o vento, o pó e a chuva,

No desolado desse campo vasto,

Fico a tremer e a me esconder no pasto,

Foge-me a força de maneira bruta...

Tento ficar, preciso resistir...

E, contra as forças que me são contrárias,

Procuro, no obscuro chão do vale,

A minha permanência conservar...

E eu vou caminhando destemida,

E vou me enraizando pela vida...

Com tal firmeza pondo nessa luta,

Vou concentrando a minha seiva bruta,

Firmando a base para me sustentar...

E, tanto esforço ponho nesse empenho,

Que vou criando corpo no meu lenho

No desespero de sobreviver...

Sair de uma semente é importante,

Romper aquilo que ficou do fruto,

Depois do fim poder continuar...

A robustez faz parte do meu ser,

Pois, saio desta luta triunfante,

Aberta em galhos, flores, novo fruto,

Nova semente, sei, vou abrigar...

E, se testada fui na inclemência

Do escaldante sol, no temporal,

Tive a conquista de uma resistência,

E a glória imensa de ser imortal!...

**********

Stella Mello

Stella Mello
Enviado por Stella Mello em 05/08/2008
Código do texto: T1114821