ENFIM

Quando nada mais houver sobre esta terra

Que me possa alegrar a triste alma,

Já acabada a forma incrível, branda e calma

De esperança que a vida ainda encerra,

Quando a crueza do destino não mais prender

Estes meus passos cambaleantes e incertos

E as agruras candentes dos meus desertos

Pouco a pouco vierem se arrefecer,

Quando meus ombros, arqueados sob o peso

Das amarguras que me tolhem todo o riso,

Estiverem já refeitos e um pálido sorriso

Conseguir entreabrir o lábio preso,

Quando a convulsão do último aceno

Impelir minha mão num vago adeus,

Duas flores nascerão destes olhos meus,

No pranto feliz de um final sereno.

Posso, então, acreditar que tudo enfim,

Ainda que tardiamente, estará acabado.

A comédia, mal escrita, terá findado

E o palhaço morrerá dentro de mim.

mreno
Enviado por mreno em 13/04/2005
Reeditado em 22/05/2005
Código do texto: T11170