Nau
Ora diga-me amigo meu
Acaso não és do teu
Próprio navio o comandante
Destas páginas que ninguém leu
Deste livro que apareceu
Sozinho em minha estante
Leio e escrevo sobre estas
Palavras tão tristes e concretas
Que minha pena concebeu
Formam frases táo funestas
Em desgraças tão discretas
Que sequer penso que o autor fui eu
Não sei do diário de bordo
Quando escrevo-lhe apago pois discordo
Do ''eu mesmo'' do instante anterior
E quando durmo e em sonho transbordo
Sopra aquela leve brisa a estibordo
Que faz-me entáo esquecer a dor
Mas é quando essa brisa entorta
Trazendo o cheiro da maré morta
Que inebria meu coração
E não demora o meu sono acorda:
Desperto dentro de minha horta
Sob a Nau da Plantação