Nau

Ora diga-me amigo meu

Acaso não és do teu

Próprio navio o comandante

Destas páginas que ninguém leu

Deste livro que apareceu

Sozinho em minha estante

Leio e escrevo sobre estas

Palavras tão tristes e concretas

Que minha pena concebeu

Formam frases táo funestas

Em desgraças tão discretas

Que sequer penso que o autor fui eu

Não sei do diário de bordo

Quando escrevo-lhe apago pois discordo

Do ''eu mesmo'' do instante anterior

E quando durmo e em sonho transbordo

Sopra aquela leve brisa a estibordo

Que faz-me entáo esquecer a dor

Mas é quando essa brisa entorta

Trazendo o cheiro da maré morta

Que inebria meu coração

E não demora o meu sono acorda:

Desperto dentro de minha horta

Sob a Nau da Plantação

Gravor di Saint Danielt
Enviado por Gravor di Saint Danielt em 18/02/2006
Código do texto: T113257