Num Recital de Malditos... Ou Quase

E atenção:

Aperta o cerco aos poetas.

Em todas as praças do mundo

Versos revoltosos resistem

Aos anacrônicos léxicos

Da poesia de fraque.

Querem agora destaque

Ao seu virtual sem sentido

Como um legítimo filho.

Por toda parte

Grafiteiros se amotinam,

Versos de reverberação estrondam

Rompendo tímpanos assépticos

Pela língua saneada.

Versos em vendavais de sígnos

Já não querem o som da rima

Mas o dom da fala escrita.

Todo o céu escureceu

Com a fuga das estrelas

Que emprestavam o seu brilho

Aos poemas de alfazema

Feitos sob luz de prata

Por amantes pasmacentos

Dos saraus de fino trato.

Versos cheirando a cachaça

Fazem rimas às avessas

E seus risos são escárnios

Ao inútil bom poeta

Que procura em mar de lama

Pela poesia branca

De sintaxe refinada.

Manifestos polifônicos

Legitimam a nova ordem:

“ Desprezo ao parnasiano

Desprezo a quem quer o passado.”

A última flor do lácio

Foi outrora inculta e bela

Hoje desbota à janela

Suas pétalas de acetato.

O barroco pós-moderno

Fala às misérias de rua

Em discurso assimétrico.

Usa às vezes redondilhas,

Às vezes palavra crua

Sem qualquer sinestesia.

Fala aos porcos de avenidas

Fala aos ratos de marquises

Fala também aos molambos

Fala também aos faquires

Fala, fala, fala...

Aldo Guerra
Enviado por Aldo Guerra em 24/08/2008
Código do texto: T1143512