Roteiro

Bebo e observo.

Retomo meu personagem

alheio e à margem.

Marginal com hora marcada.

Não me excedo na bebida.

Cometo excessos

observando a vida alheia

amealhando histórias.

Não é o álcool que me embriaga

é esta vaga sensação de não pertencimento,

de distanciamento deste mundo.

Homens suados, embriagados

que praguejam e sorriem

com a mesma facilidade.

Mulheres vulgares, oferecidas,

envelhecidas pelo ofício,

pelo vício.

Todos à beira do precipício.

Vejo a tudo, quieto, mudo

como se um gesto meu

desmanchasse a película

desta trama ridícula

que insisto em filmar.

Meu personagem não despista

que é um péssimo roteirista.

Salvador – Bahia, 05/03/06