DE TUDO QUE NÃO É MEU
Não é minha esta palavra
que escorrega-me da mente
e desce por entre os dedos
como um filete de sangue
que escorre-me da tua falta.
Não é minha esta calma
com que falo desta ausência
que feito faca rasga-me as manhãs,
escurece-me as tardes
e assombra-me as noites da alma.
Não são minhas as lembranças
que vão povoando instantes
com uma fertilidade sem par.
Não é meu este torpor
que paralisa-me o sangue
e segue mantendo-me alheia.
Nada disso é meu.
Mas assim mesmo juntam-se contra mim
e conservam-me refém
de tudo que,
não sendo meu,
apropria-se de mim.
E tudo que não possuo
é tão parte de mim
quanto este meu sentimento,
que não sendo mais meu,
agora
é apenas teu.