PERDIDO PARAÍSO

À MEMÓRIA DE MÁRCIA F. P.

Eu vi o lírio brotar na campa

Daquela donzela formosa dormindo,

A lembrar-me que embaixo daquela tampa

Havia uma triste saudade sorrindo.

No cruel sadismo do tempo profano

Roubando, sem pena, seu doce alento,

A vida, ceifada no verdor dos anos,

Pendeu qual flor ao sabor do vento.

Eu a conheci e amei quando moço

E tinha a alma inda cheia de sonhos

E ela sonhava dias mais risonhos,

Agora, sepultos no fundo de um poço.

Ela partiu. Não volta nunca mais.

Que pena ! Aquela vida ainda tão nova,

Destruída na terra da rasa cova,

Me nega a presença que a dor me traz.

Assim enterrado no cemitério

Pareceu-me tão triste aquele riso:

Tinha um quê silencioso de mistério

E a solidão de um perdido paraíso.

mreno
Enviado por mreno em 19/04/2005
Reeditado em 13/05/2005
Código do texto: T11962