TARÔ
Feito O Louco comecei
a caminhada.
A sacola nas costas,
olhar voltado
para a frente,
mais exatamente,
para tudo
e para nada.
Em algum ponto
na jornada
me fiz O Mago:
rezas, incensos,
velas e cartas.
Não tinha jeito pra coisa,
dei-me então por farta
e assim, meio indecisa,
fiquei Sacerdotisa.
Acabei pulando
algumas partes do baralho,
que na verdade,
antes que ajuda
só me davam mais trabalho.
O Imperador,
sem arauto, sem aviso,
apareceu, se instalou.
Estalou dedos,
deu as cartas,
definiu rumos.
No começo era engraçado.
Mas acabei fora dos prumos.
Nunca aprendi a jogar
se as cartas fossem marcadas.
Voltei ao Louco,
que pra Imperatriz
também não dou.
O Carro seguiu adiante,
por vezes desgovernado,
ora ia pra um canto,
ora pra outro lado.
Não sou boa com igrejas,
daí não ouvir O Papa.
À Força segui errante,
comi o pão do Diabo,
já não era como antes,
Eremita me tornara.
O Destino girou A Roda,
não questiono A Justiça:
acabei como Enforcado:
indignada e irritadiça.
O Louco em mim é mais forte,
é a parte mais constante,
fiz um contrato com A Morte:
só fica o que for importante.
Numa curva qualquer da rua,
num ponto azul do momento
enxerguei O Sol, vi A Lua,
A Estrela que houve antes,
fiz meu próprio Julgamento.
Ganhei o Mundo
numa carta de Amantes.