TARÔ

Feito O Louco comecei

a caminhada.

A sacola nas costas,

olhar voltado

para a frente,

mais exatamente,

para tudo

e para nada.

Em algum ponto

na jornada

me fiz O Mago:

rezas, incensos,

velas e cartas.

Não tinha jeito pra coisa,

dei-me então por farta

e assim, meio indecisa,

fiquei Sacerdotisa.

Acabei pulando

algumas partes do baralho,

que na verdade,

antes que ajuda

só me davam mais trabalho.

O Imperador,

sem arauto, sem aviso,

apareceu, se instalou.

Estalou dedos,

deu as cartas,

definiu rumos.

No começo era engraçado.

Mas acabei fora dos prumos.

Nunca aprendi a jogar

se as cartas fossem marcadas.

Voltei ao Louco,

que pra Imperatriz

também não dou.

O Carro seguiu adiante,

por vezes desgovernado,

ora ia pra um canto,

ora pra outro lado.

Não sou boa com igrejas,

daí não ouvir O Papa.

À Força segui errante,

comi o pão do Diabo,

já não era como antes,

Eremita me tornara.

O Destino girou A Roda,

não questiono A Justiça:

acabei como Enforcado:

indignada e irritadiça.

O Louco em mim é mais forte,

é a parte mais constante,

fiz um contrato com A Morte:

só fica o que for importante.

Numa curva qualquer da rua,

num ponto azul do momento

enxerguei O Sol, vi A Lua,

A Estrela que houve antes,

fiz meu próprio Julgamento.

Ganhei o Mundo

numa carta de Amantes.

Débora Denadai
Enviado por Débora Denadai em 19/04/2005
Código do texto: T12094
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