SEGUNDA ADOLESCÊNCIA

E aí eu fui saindo da infância

como se impossível fosse

continuar comendo doce

e lambendo os dedos depois.

E eu fui saindo da infância

e o que era doce se foi.

E fui entrando na essência

dos gozos e dores que vêm,

virei não sei muito bem quem

e mal engatei a primeira

e sem carro nem licença

já deixei a adolescência.

E aí fui seguindo capenga,

e na base do lenga-lenga,

tateando às escuras

abri caminho à tortura

da tal idade madura.

Amadureci meio à força

de muitos dias sem sol,

amarelei muito moça

e fiquei meio sem sal.

E assim amarelada

amarelei de viver,

esqueci de dar risada

e quando fui perceber

já tinha saído da estrada.

Mas como a mim não interessa

nada de estradas e rumos,

e como já não tinha pressa

tratei de sair do prumo.

E como a mim pouco importa

se irão abrir-me a porta,

(vou entrar de qualquer jeito,

doida, perdida, parca ou torta,

corretinha ou com defeito)

e trazia comigo ao ombro

borboleta colorida,

meio pasma de assombro

e muito da oferecida,

fui voando sem roteiro

buscando onde estava a vida.

E como a mim já não assombra

os pontos que aumentam contos

nas costas da minha sombra

saí de fina da idade

adolesci de novo

e ponto.

Débora Denadai
Enviado por Débora Denadai em 22/04/2005
Código do texto: T12527
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