Amanhece...

Amanhece lá fora...

A cidade estúpida começa a ficar

mais estúpida.

A realidade inteira adquire tons de tragédia.

Pessoas que passam,

que passam sempre e nunca ficam...

Amanhece...

E um burburinho furioso começa a tomar conta

do que restou da noite.

E eu, da janela do quarto que não é meu

(a mania de pegar tudo emprestado)

absorvo tudo, observo tudo, e tudo me angustia.

Amanhece...

E a idéia de suportar mais um dia

põe-me aflito, desesperançado.

Não, tudo menos a repetição!

Tudo, menos suportar de novo as horas

que põem um certo equilíbrio nessa loucura toda!

Tudo, menos amanhecer o dia!

Ah, mas sempre amanhece...

Sempre foi assim, por que hoje haveria de não ser?

Amanhece o dia...

Mas dentro de mim a escuridão ainda é muda e total,

dentro de mim ainda faz frio,

dentro de mim, não amanhece nunca...

Diógenes
Enviado por Diógenes em 24/04/2005
Código do texto: T12809