DISCRETA SEMELHANÇA.

Dia destes, em um fim de tarde.

Dei por mim num barranco de rio.

Ao longe um pequeno barco,

Um menino empurrando.a canoa.

Nas mãos um comprido bambu.

Quanta semelhança com o guri

Que fui aos dez anos de idade.

O mesmo boné de feltro quadriculado

A calça curta, presa

Por uma só alça de suspensórios,

A camisa suja de estripulias

Abotoada em um só botão.

Os óculos “fundos de garrafa”

Escorregado no meio do nariz.

De algum lugar eu conhecia aquele petiz.

Eu o observava, ele ficou me olhando,

Imagem de uma fotografia antiga.

A noite foi chegando devagar.

Afastou-se o barquinho

E o menino também.

Não lhe fiz sequer um aceno.

O passado não se despede.

Dei-lhe as costas

Ergui os óculos

Ajeitei o boné quadriculado

E segui

Nômade, errático, andejo.

Cativo das minhas fotos desbotadas.

Humberto Bley Menezes
Enviado por Humberto Bley Menezes em 25/03/2006
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