DISCRETA SEMELHANÇA.
Dia destes, em um fim de tarde.
Dei por mim num barranco de rio.
Ao longe um pequeno barco,
Um menino empurrando.a canoa.
Nas mãos um comprido bambu.
Quanta semelhança com o guri
Que fui aos dez anos de idade.
O mesmo boné de feltro quadriculado
A calça curta, presa
Por uma só alça de suspensórios,
A camisa suja de estripulias
Abotoada em um só botão.
Os óculos “fundos de garrafa”
Escorregado no meio do nariz.
De algum lugar eu conhecia aquele petiz.
Eu o observava, ele ficou me olhando,
Imagem de uma fotografia antiga.
A noite foi chegando devagar.
Afastou-se o barquinho
E o menino também.
Não lhe fiz sequer um aceno.
O passado não se despede.
Dei-lhe as costas
Ergui os óculos
Ajeitei o boné quadriculado
E segui
Nômade, errático, andejo.
Cativo das minhas fotos desbotadas.