ESTA OUTRA EM QUE HABITO
Nunca fui das casas onde vivi
e também elas jamais me pertenceram.
Nunca fui parte de lugar nenhum
e tampouco sou parte daqui.
Vou-me deixando estar aqui e além,
vou passando e buscando abrigo,
algo de chuva de verão,
algo de estação do ano.
De viver em cartões postais
e retratos anônimos
de fotógrafos amadores.
Algo de não construir passado
porque não se pode fazê-lo
cozinhando em panelas alheias.
Também não sou esta
que anda bem sobre os saltos,
desenvolta entre os panos
e à vontade na maquiagem.
Embora possa está-la eventualmente.
Mas há esta que mora
em uma casa no campo,
em fragmentos de sonho,
aconchegada entre livros,
colchas de retalho sobre o sofá.
Um gato que passeia pela janela,
o cheiro de café quente,
e a poesia morando dentro dela.
Esta não está.
Esta é.
Mesmo quando não está.