PORQUE HOJE É SÁBADO.



Não desejava este final.
Lágrimas misturadas ao sangue.
Um líquido viscoso, grosso e negro,
Esparramado pelo chão.

Os gatos arriscam lamber seu pescoço
O odor é adocicado.
Minhas mãos úmidas de sangue
Mancham as paredes.
A faca caiu em ponta,
Segue na vertical,
Espetada no chão de tábuas.

A televisão noticia o fato.
Estampado no vídeo o meu retrato.
Ser desprezível,
Com números abaixo.
Assassino cruel!

Espelho quebrado.
Pedaços de vidro sobre o sofá.
Tapete manchado.
A água do macarrão secou no fogão,
O vinho congelou no freezer.
Ela chegou menstruada e chorosa.
Meu colchão estampado de vermelho,
Lençóis, travesseiros, minha solidão,
Tudo dançando neste sábado infernal.

Copos espalhados.
Garrafas tombadas no sofá
Corpos estendidos no chão.
Inertes e bêbados.
Os gatos lambendo coturnos policiais.

Ela ao piano cantando:
‘Pra não dizer que não falei das flores’.
O maldito poodle latindo sem parar.
As notas da partitura flutuando pela minha garganta,
Sol, Fá. Ré, Dó sustenido.
Herança de Geraldo Vandré.

Desmaio para continuar
Refém do meu pesadelo
Atravesso seu corpo
Estupro a silhueta
Arrebentando as cordas do violão.
Desenhada no chão.