ILUSÃO
Quando estive contigo
E vi a tua alma ficar em paz ao meu redor,
Pensei não estar mais só...
Pensei que a torrente que me leva para o mar
A trazia também na louca ciranda de todas as energias
Que me arrastam para o mar...
Tocar-te o corpo,
Receber dos teus beijos
E conhecer a claridade da tua alma
Era próprio de mim...
Pensar que assim também vias a mim,
Foi puro engano de quem despenca em corredeiras
Com pressa do mar...
Enquanto, no roldão da minha torrente,
Despenham-se comigo pedaços das minhas tragédias,
Gritos de ais,
Restos de memórias que se esfacelam contra as rochas do caminho,
A minha água passava com pressa do mar,
A tua queria ainda ficar
Pelos quase infinitos meandros das planícies alagadas...
Na solidão das montanhas,
No ar gelado das suas noites,
Quanto viajo em saltos,
Sei onde está o mar,
E a sua maresia distante
Quase me revela toda a sua plenitude...
Eu ainda sei de ti por que somos água,
E ainda sinto o puxão da tua essência nas planícies,
Mas já não me alcanças
Por que, a cada salto, aprendo um pouco da arte de voar...
Quando estive contigo, pensei não estar mais só,
Mas, não vi que eu era etéreo e fluido para os ventos
Que levam para o mar...
Às vezes, ainda choro na solidão dos meus vôos
Por que sinto que te demoras...