NUDEZ ABSTRATA

nua,

as formas do seu corpo,

nos contornos abstratos da coberta

quase fantasma

desveste a vergonha,

de olhar circunflexo,

pronta para se mostrar inteira

de braços abertos

sem crucifixo nos seios.

... a forma do seu colo

me acostumou ao forno do seu peito

como se amante e companheira me agasalhassem.

nua,

seu corpo sob o branco,

dos cheiros acostumados a provar

a ponta molhada dos dedos

em tanto molho tártaro,

a calcinha molhada

inocente como a infância

de pernas abertas

na casca da amarelinha.

... o sorriso sem passado

me devolveu a traquinagem ausente

como se namorada e menina em mim brincassem.

nua,

o desenho sobre a pele,

abrasada nesta tez tão amiga

desvestida da tatuagens

de outros amores,

a identidade dos dedos

de toques bem-feitos,

vadios e passageiros,

ardeu na chama eterna.

... o fogo do só corpo

consumiu a chama e as silhuetas,

como se mulher e puta delicadamente enfurecessem.

Desperta para a noite,

como quem deita sem perplexidade,

a despida e a amada se acamam lado a lado

para amarem nuas, morrerem nuas e nuas dormirem.