CARTOMANTE

Tuas mãos, nascidas do escuro,

não espreguiçaram um dedo na luz

ao tocar o louva-a-deus em trabalho de parto.

Eu parto, quebro e arrebento

o dia numa tarde de sol

que pariu o rebento do cisne

na dança.

Eu danço, morro e desenluvo

as mãos juntas, em par,

que devolvem namorados às luas

cheias de medo.

Eu medo, eu perco, eu desboto

a curiosidade assimétrica

que desenharam as linhas das mãos

quando lidas a dedo.

Tuas mãos, vindas do escuro,

arregalaram as vistas do cartão-postal

que viram o choro nascer sem lágrimas pares.

E, se a caligrafia da morte rondar, só e sem destino,

hei de te abraçar até trocar de mal com o tato da falange impar.