Rascunho de mim

Eis que pego papel polido e lápis preto apontado, sento-me confortavelmente e entre círculos e linhas começo a me construir. Primeiro um pequeno esboço das formas gerais, feitos com leveza para não marcar o papel, e logo tenho um boneco de mim.

Depois forço mais o lápis para dar forma ao meu ser, curvas perfeitas e simétricas e alguns detalhes já podem ser vistos, a borracha branca e macia aparece vez ou outra para aparar as imperfeições e tirar o alicerce que era o esboço. Para finalizar, um pouco de sombra, e então tenho um rascunho de mim.

Porém este belo desenho não se parece comigo, pode até lembrar, se for buscar semelhança lá no fundo, mas lhe falta algo que não se pronuncia.

Revoltado com a inesperada falta de sensibilidade em enxergar o meu erro, transformo o papel em uma bola e a arremesso na cesta de lixo sem sucesso de acerto, e ela fica ali perdida em minha preguiça.

Tempo depois encontro um papel preso na geladeira por um ímã. Nota-se que tentaram alisá-lo ao máximo para fazê-lo voltar a ser o que era. De um lado eu encontro o meu rascunho de mim e do outro há algo desenhado com lápis coloridos, ao que parece um outro desenho de mim.

O pouco controle do lápis já me diz que é um desenho infantil, são linhas sobrepostas, irregulares e assimétricas onde uma borracha não teria serventia, mas que apesar de simples conseguiram de forma única capturar o que eu não pude, minhas imperfeições, que me são tão peculiares e que eu quis diminuir, esconder ou apagar de mim.

Juliano Rossin
Enviado por Juliano Rossin em 25/03/2009
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