Se chegar
Angélica T. Almstadter
Se chegar, não estranhe os sinos;
Pendurados na varanda,
A porta levemente encostada,
Só os ventos me trazem hinos.
Não censure minha liberdade franca,
A voz rouca e arrastada,
Tenho canários aprisionados,
Grandes gaiolas enfeitadas,
Ando descalça e despida,
A me conhecer despojada.
Se chegar, dispa-se na entrada,
Traga os olhos lavados;
No sereno das madrugadas,
Traga beijos orvalhados,
Abraços amplamente espaçosos,
Suspiros generosos,
Sussurros secretos, seletos.
Se chegar quando eu adormecer,
Não acorde meus sonhos,
Adentra por eles a viver,
Reconheço-os tristonhos.
Há ainda alguns a dividir,
Claramente delicados,
É só pegar-me pelas mãos,
Pela minha face a sorrir,
E os meneios agitados;
Saberá em que desvãos
Encontrará o meu fremir