Se chegar

Angélica T. Almstadter

Se chegar, não estranhe os sinos;

Pendurados na varanda,

A porta levemente encostada,

Só os ventos me trazem hinos.

Não censure minha liberdade franca,

A voz rouca e arrastada,

Tenho canários aprisionados,

Grandes gaiolas enfeitadas,

Ando descalça e despida,

A me conhecer despojada.

Se chegar, dispa-se na entrada,

Traga os olhos lavados;

No sereno das madrugadas,

Traga beijos orvalhados,

Abraços amplamente espaçosos,

Suspiros generosos,

Sussurros secretos, seletos.

Se chegar quando eu adormecer,

Não acorde meus sonhos,

Adentra por eles a viver,

Reconheço-os tristonhos.

Há ainda alguns a dividir,

Claramente delicados,

É só pegar-me pelas mãos,

Pela minha face a sorrir,

E os meneios agitados;

Saberá em que desvãos

Encontrará o meu fremir

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 06/05/2005
Código do texto: T15078
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