VERBO INDETERMINADO

VERBO INDETERMINADO

Não existe dia para se morrer.

Os ventos assassinam as folhas

e tudo se sente mediante esta dor.

Não existe pena para morrer,

tudo aparece como um remédio, uma saída, uma conformação.

Quem brincou de amor se arrepende da peça.

Não dá para imaginar a dor que começa

a fechar os olhos.

Não existe nada que determine o que vem à tona,

seja uma palavra, seja num estrangular, seja numa maratona.

Cultiva-se a morte quando renasce o momento de mentir.

Estou a repetir o que o laço da vida demonstra.

Não existe mais nada além do mistério,

Tudo é nuvem que se descarrega, molhando os desprevenidos.

Nos ouvidos o repetir de toda a fuga que se alinha

nas nossas controvérsias.

Não existe hora para o vento que assassina a folha.

Vou partir sem remédio com uma farmácia de conformismo.

Assim se monta aquele edifício de burgueses.

Não sei como morrer, tudo é uma nuvem que escurece os cálculos,

e quem se sente pequeno se sabe ingênuo.

Tudo é uma grande família dividida.

Desde os primórdios, o sangue sustenta a vida.

Não saberei morrer, estranharei o laço apertando

e tudo se despedindo.

Já não sei viver, e tudo é uma grande árvore da vida.

O vento assassina as folhas e ninguém tem hora para morrer.

É grande a mentira que me governa.

A ironia daqueles que andam se multiplicam e matam o mundo

numa só missão.

Governam maciços os que movem armações por entre as nuvens.

Tudo é uma lenda esquisita.

Não caminho com mais nada,

só se vai levando algo de fachada, e calado.

Tudo é um verbo indeterminado.

Não existe dia para se morrer,

e os ventos prosseguem

assassinando as folhas.

FERNANDO MEDEIROS

Campinas, é janeiro de 2007.