O BANQUETE PRO REI

Vês os meus olhos

Amendoados,

Quase parados,

Fixos,

Atentos, mas serenos?

Sentes o pulsar do meu coração

Batendo nas têmporas

E os meus passos lentos,

Silenciosos,

Cuidadosos quanto os olhos?

Sentes que as minhas mãos macias

Estão quentes e escondem garras?

Não corras não,

Já não podes, é tarde...

Um movimento e eu salto!

Não te movas...

Eu te farejo

O cheiro alvo da tua pele macia,

Arrepiada...

Lambo o sal

Do teu ventre

Até a tua nuca...

Meto o meu nariz

No meio dos teus pelos finos,

Me embriago com o teu cheiro

E sinto toda a força do teu grito contido

Mordisco a tua nuca

Cravo as minhas patas nos teus ombros:

Trago o teu peito, a tua boca e os teus olhos

Para perto do meu hálito quente

À mercê dos meus dentes...

Vim servir-me de ti.

Eu andava na rua,

Pisando na Lua,

Quando me achastes...

Te cercastes de mim,

Tomastes as minhas mãos,

Me chamastes de teu Rei,

Dançastes cirandas ao meu redor,

Jogastes guirlandas,

Mostrastes-me o teu ventre d’ouro de luz...

E num altar feito da seda mais fina,

Queimastes incensos para os meus deuses e deusas

E te oferecestes para a minha fome...

Não, não corra!

Não, não morra!

Olha para o fundo dos meus olhos

Enquanto abro o teu ventre com a minha lança úmida

E beijo a tua boca, mordisco tua nuca, estreito teus seios

E te como com a minha alma...

Espera o sinal que me explode,

Então corra, grite, crave tuas unhas...

Urre e morra comigo na delícia da tua taça...

Chico Steffanello
Enviado por Chico Steffanello em 06/05/2006
Código do texto: T151385
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