O BANQUETE PRO REI
Vês os meus olhos
Amendoados,
Quase parados,
Fixos,
Atentos, mas serenos?
Sentes o pulsar do meu coração
Batendo nas têmporas
E os meus passos lentos,
Silenciosos,
Cuidadosos quanto os olhos?
Sentes que as minhas mãos macias
Estão quentes e escondem garras?
Não corras não,
Já não podes, é tarde...
Um movimento e eu salto!
Não te movas...
Eu te farejo
O cheiro alvo da tua pele macia,
Arrepiada...
Lambo o sal
Do teu ventre
Até a tua nuca...
Meto o meu nariz
No meio dos teus pelos finos,
Me embriago com o teu cheiro
E sinto toda a força do teu grito contido
Mordisco a tua nuca
Cravo as minhas patas nos teus ombros:
Trago o teu peito, a tua boca e os teus olhos
Para perto do meu hálito quente
À mercê dos meus dentes...
Vim servir-me de ti.
Eu andava na rua,
Pisando na Lua,
Quando me achastes...
Te cercastes de mim,
Tomastes as minhas mãos,
Me chamastes de teu Rei,
Dançastes cirandas ao meu redor,
Jogastes guirlandas,
Mostrastes-me o teu ventre d’ouro de luz...
E num altar feito da seda mais fina,
Queimastes incensos para os meus deuses e deusas
E te oferecestes para a minha fome...
Não, não corra!
Não, não morra!
Olha para o fundo dos meus olhos
Enquanto abro o teu ventre com a minha lança úmida
E beijo a tua boca, mordisco tua nuca, estreito teus seios
E te como com a minha alma...
Espera o sinal que me explode,
Então corra, grite, crave tuas unhas...
Urre e morra comigo na delícia da tua taça...