RECORTE

RECORTE

Agora me visto de medo.

Não procuro mais nenhum brinquedo.

Agora me fantasio

procurando mistérios nas espumas.

A alma aos percalços se acostuma.

Agora me visto de indecência.

Não! Sempre há de haver em meus olhos

esta falência de histórias mentidas?

Sei que com isto não me importo.

Amanhã mesmo me vestirei de vidas.

Amanhã mesmo em mil pedaços me recorto,

e uma possibilidade

como a querer se libertar dos portos.

Furiosamente o vento,

doce possibilidade em que recorto,

volto timidamente,

amanhã prossigo,

que conflito, que jazigo,

que jazigo aberto!

Com tantos espaços verdes

além do cemitério-deserto.

Da revista eu recorto

figuras, fotos arrancadas de rostos

exprimindo vontade em suas doces expressões.

FERNANDO MEDEIROS

Campinas, é outono de 2009.