ESPÍRITO LIVRE
Às vezes não me pareço comigo.
Deve ter algo errado.
No espelho certifico-me que não:
sou eu mesma do outro lado.
Milhares de perguntas, num ar meio atravessado.
Por que nada me prende, nada me contém?
As mesmas perguntas sempre.
O espelho nunca intervém.
Em volta, nada é meu.
Nada me pertence.
Não pertenço a nada.
As pessoas falam:
você é meu, sou teu.
Vejo, observo, intrigada.
Mas isso tudo não me agrada.
Isso de pertencer
soa-me um tanto pedante,
um negócio meio bizarro,
chega a ser meio irritante.
Dentro de mim, liberdade gritante.
A minha volta, sempre a mesma fita,
mas dentro de mim insiste
um espírito livre que grita.