Solidão

SOLIDÃO

Solidão,

lago secreto da vida

onde me banho hora a hora

num silêncio matizado

de vozes e sorrisos...

Solidão,

minha pátria

eco de um visionário

que de mim se fez gémeo

e de quem sofro também

a dor e o pranto.

Solidão,

vazio e presença

murmúrios e cantos

vozes e gritos,

solidão embrenhada em cada segundo

tecida no ventre de cada madrugada

sofrida na luz de todo o entardecer...

Solidão,

gémea de mim:

porque hei-de trair-te

se és tudo o que tenho

porque hei-de iludir-me

com vozes e corpos

com carícias e beijos

que vêm e que vão?

Solidão,

afinal, és tu que me ficas

és tu que me encostas

o teu corpo inefável

e os beijos que à noite

o vento sussurra

são teus, solidão

e é teu o abraço

que me cinge no sonho

quando largo o oceano

que transporto comigo.

Solidão,

escuta:

ser-te-ei fiel

cortarei amarras

arrancarei correntes

não deixarei entrar

nenhum sopro

nenhum hálito

nenhuma mão

virá afagar o tecido

que tenho encrespado

pelo toque de ti...

Solidão,

desce aqui!

Vem deitar-te comigo

nas margens do rio

adormeçamos juntas

de mãos enlaçadas

até que a noite prossiga a viagem

e as estrelas murchem

na luz da alvorada!

Regina Sardoeira
Enviado por Regina Sardoeira em 13/05/2006
Código do texto: T155491