A PORTAS FECHADAS
As portas se fecharam diante de mim.
Tampouco há, ainda que busque, a esmo,
janelas que se abram,
quem sabe, a um jardim,
a uma praça, uma fonte,
ou nem mesmo
um céu azul que se aviste daqui.
As portas estão cerradas.
Não há janelas,
ainda que fechadas.
Não encontro as chaves.
Não estão em meu poder.
As portas que um dia abrimos
são fechadas por nós mesmos,
naquelas abertas por outros,
uma vez fechadas,
não adianta bater.
Faz frio lá fora e
aqui dentro congela.
O frio que de dentro vem é pior:
paralisa, incapacita, esfacela
cada pedaço
do que temos de melhor.
Olho a porta e busco, em vão,
onde está a tranca, a fechadura,
uma abertura, uma chance, um vão.
Nada. Não me cabe encontrar a saída.
A porta fechou-se do lado de fora,
não há onde ir ou o que fazer.
Paralisada e impotente, agora,
o que me resta é tentar aquecer
o frio que insiste e se demora
dentro do meu próprio ser.
Não há placas de saída,
e há portas que não se arromba.
Fecham-se. É tudo.
Dentro de nós a esperança tomba
diante do frio que deixa o coração mudo.
Não sei onde está quem conseguia
fazer as portas se abrirem.
Dela resta pouco,
talvez uma fotografia,
um sorriso congelado no papel.
Revivê-la, levantá-la,
aquecer-lhe a alegria,
restaurar-lhe a confiança,
mostrar-lhe o céu,
com outros azuis, mais claros,
trazer-lhe de volta o sol
e ao rosto o sorriso, agora raro.
Tarefa hercúlea esta,
de ressuscitar a morta,
nesta sala funesta,
trancada a porta,
pouco resta.
Não há placas de saída,
e há portas que não se arromba.
Fecham-se. É tudo.