Vontades Aladas

Minhas vontades aladas desconhecem chão

E a gravidade ferida me amassa os tendões

Sou garimpeiro da alma neste aluvião

São meus coadjuvantes amantes e arpões.

Minhas gavetas de vida têm tudo que há

Porém gavetas de morte só sabem falar

Me aproxima o rosto um beijo pendular

É o meu tempo chegando, o meu tempo a passar.

Se sobrevivem as palavras

Quando sobreviver asfixia,

Por que não mais acreditar em asas?

Faço casulos desta melodia.

Voo agridoce, acre e dócil

Põe a planar doçura agredida

Sobre as maiores distâncias internas

Que nesta alma não terão medida.

Fazer da vida vitrine me parece são

Mas este choro retido me afoga os pulmões

Fazendo mar clandestino ao toque das mãos

E navegando o reverso das intuições

Por cada noite acordado que atravessei

Ao outro lado da dor finalmente eu cheguei

Somei feridas e arestas, as minhas, de alguém,

Deixei de herança os meus frutos, e fome também.

Quando abertos nossos mares,

Falta-me fé ou te excede o zelo

Se ao consumar de cada travessia

Crês em milagres e eu em tornozelos?

Ninguém escapa desta sorte:

Tudo que não germina enlouquece

Faço ferida funda para despertar

E expelir recortes desta prece

Como se nada houvesse.

Rodrigo Fróes
Enviado por Rodrigo Fróes em 01/05/2009
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