Vontades Aladas
Minhas vontades aladas desconhecem chão
E a gravidade ferida me amassa os tendões
Sou garimpeiro da alma neste aluvião
São meus coadjuvantes amantes e arpões.
Minhas gavetas de vida têm tudo que há
Porém gavetas de morte só sabem falar
Me aproxima o rosto um beijo pendular
É o meu tempo chegando, o meu tempo a passar.
Se sobrevivem as palavras
Quando sobreviver asfixia,
Por que não mais acreditar em asas?
Faço casulos desta melodia.
Voo agridoce, acre e dócil
Põe a planar doçura agredida
Sobre as maiores distâncias internas
Que nesta alma não terão medida.
Fazer da vida vitrine me parece são
Mas este choro retido me afoga os pulmões
Fazendo mar clandestino ao toque das mãos
E navegando o reverso das intuições
Por cada noite acordado que atravessei
Ao outro lado da dor finalmente eu cheguei
Somei feridas e arestas, as minhas, de alguém,
Deixei de herança os meus frutos, e fome também.
Quando abertos nossos mares,
Falta-me fé ou te excede o zelo
Se ao consumar de cada travessia
Crês em milagres e eu em tornozelos?
Ninguém escapa desta sorte:
Tudo que não germina enlouquece
Faço ferida funda para despertar
E expelir recortes desta prece
Como se nada houvesse.