Josés e Marias

Na tez vincada de anônimos Josés e Marias,

Anti-seres das favelas e sertões,

Expõem-se as dores imoladas

Em altares de solidão.

Nas auroras descarnadas da banda pobre do mundo,

As retinas baças das gentes rotas,

Refletem ossos pálidos de sonhos

Predados ainda no ninho de sonos inquietos

- Pelo voraz, e insaciável, God Market...

A noite cai, escura e sem esperanças,

Num acampamento de refugiados em Darfur,

Onde Joh’zeh suga faminto um seio seco,

Ao som ensurdecedor de moscas que lambem

- O sal dos olhos mortos de M´haria.

Ao som de God save the Queen,

Diante de seus súditos Madonna sorri,

E Abdulah explode-se na manhã cinzenta de Bagdá,

Dilacerando as carnes

Brandas e corrompidas,

Rústicas e inocentes,

Sem distinção entre árabes Yousefs e Josephs yankees,

Entre protestantes Marys e maometanas Marihas.

Toda alma tem seu céu e seu próprio inferno,

E no centro do caos há ordem e calmaria,

É assim que no deserto desta era,

O céu de cristal azul,

Do coração da America do Sul,

Consola o espírito do poeta que chora

Diante da delicadeza das flores de acerola.

Antonio P Pacheco
Enviado por Antonio P Pacheco em 03/05/2009
Reeditado em 03/05/2009
Código do texto: T1574163
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