Josés e Marias
Na tez vincada de anônimos Josés e Marias,
Anti-seres das favelas e sertões,
Expõem-se as dores imoladas
Em altares de solidão.
Nas auroras descarnadas da banda pobre do mundo,
As retinas baças das gentes rotas,
Refletem ossos pálidos de sonhos
Predados ainda no ninho de sonos inquietos
- Pelo voraz, e insaciável, God Market...
A noite cai, escura e sem esperanças,
Num acampamento de refugiados em Darfur,
Onde Joh’zeh suga faminto um seio seco,
Ao som ensurdecedor de moscas que lambem
- O sal dos olhos mortos de M´haria.
Ao som de God save the Queen,
Diante de seus súditos Madonna sorri,
E Abdulah explode-se na manhã cinzenta de Bagdá,
Dilacerando as carnes
Brandas e corrompidas,
Rústicas e inocentes,
Sem distinção entre árabes Yousefs e Josephs yankees,
Entre protestantes Marys e maometanas Marihas.
Toda alma tem seu céu e seu próprio inferno,
E no centro do caos há ordem e calmaria,
É assim que no deserto desta era,
O céu de cristal azul,
Do coração da America do Sul,
Consola o espírito do poeta que chora
Diante da delicadeza das flores de acerola.