CANÇÃO SEM PÁTRIA
Tenho no coração cicatrizes como cordilheiras,
Costuradas por operários à beira do medo,
Com os olhos voltados para estradas
Por onde esperam que venham
Homens construídos com amor...
Tenho dentro do coração um mapa
Onde coloco todos aqueles excluídos do jantar oficial,
Dou-lhes o que já é deles,
Terras, casas, campos,
Pássaros e flores...
Tenho dentro do coração uma cruz sem ninguém cruxificado,
Talvez tenha descido para andar pelo mundo,
Visitar amigos, consolar aflitos,
Reviver o amor perdido,
Apascentar feras...
Tenho dentro do coração canções que esperam para nascer,
Para trazê-las à vida tenho de me encontrar com você,
Com todos os que se espremem em barracos,
Com os fortes, com os fracos,
Talvez com elas eu reconstrua
Parte das artérias dos sonhos,
Recomponha o rosto de um pobre país,
Terras por onde ando a cantar e à procura
Da identidade que perdi,
Nome que esqueci
Quando desenhei
A canção sem pátria,
Enquanto andava
Pelos continentes
Em que vivi.
Preto Moreno
Preto Moreno
Enviado por Preto Moreno em 19/05/2006
Reeditado em 23/05/2006
Código do texto: T158996