AS VÍTIMAS DO QUASE

Somos todos vítimas do quase,

Do quase pronto,

Do falta pouco,

Do aguarde na fila…

Somos vítimas da especulação burocrática,

Cristãos lançados ao Coliseu,

Pedra jogada ao rio, daquelas que saltam antes de afundar…

Somos vítimas dos papéis acumulados no canto da mesa do canto da sala,

Leitores analfabetos dos carimbos arredondados

Refém dos números…Afinal, somos apenas um número…

Somos vítimas atordoadas pelo tiro certeiro da espera,

Caça preferida,

Alvo fácil…

Seguimos a promessa do que a política arremessa ao ar

Então acabamos por ficar sem ar,

Sem chão, sem horizonte…

Nossa esperança dança com a música das palavras sem sentido,

Ao nosso ouvido, a redenção…

Somos a vela que queima no altar da sala,

Aos olhos do santo,

E aos pés da cruz…