DO MEU JEITO DE SER
Eu toco nas palavras com carinho,
Com o cuidado, com a paixão,
Que toca os dedos do Gilmour
As cordas afinadas para que elas cantem
Seus sons guardados nas suas gargantas de metal
E há dias que eu vou ao piano
Ou invoco Vivaldi
Ou encarno Mozart regendo;
Há dias que brinco de Coralina
E converso com Quintana
Sentado num verso Drumondiano,
Noutros inverto os meus olhos
E verto os versos da escuridão,
Do amor de Gibran aprisionado noutra dimensão
Voando com asas quebradas
Chorando de dor
Até chegar
Aqui.
Bato às portas do Céu
E recebo sorrisos humanos;
Vênus me ensinou que eu estou
Em todos os lugares – alma andorinha;
Aprendiz de passarinho; sei das coisas do ar,
Contudo, durmo no chão;
Um dia verei as minhas vestes abandonadas,
As asas molhadas definitivamente abraçadas a terra,
E saberei que voarei então só com a força do pensamento;
Irei aos picos mais altos e, sem saudades, olharei os enleios terrenos,
As mentes aprisionadas debatendo-se em suas redes de enganos;
Não poderei chorar por ti que dorme e não escuta que batem à tua porta,
Se eu chorar por ti, afogaria o mundo...
Sei que choras as tuas dores,
Mas por que não afrouxas as amarras que tu mesmo apertaste?
Engana-se quem pensa que não leva nada,
São os pensamentos poutas poderosas
E o pensamento de muitos pesa mais que as lápides
Que pensamos que sepultaram alguma cousa;
Ir além das dores é subir onde não nos alcançam
Os pensares infelizes que vivem na superfície