EM NOME DA HONRA
Em Pearl Harbour matei um japonês.
Ele me pediu: Com espada.
Eu disse: Não tenho.
Ele: É desonra.
Eu: Não importa. A morte é uma honra.
Naquela tarde sonolenta e vermelha,
Ao longe algumas ovelhas
Esperavam o guardador de rebanhos.
Toda vez que penso nisso, é estranho,
Cai-me uma lágrima do olho,
Quase a mesma do japonês,
Que suava muito.
Estou sentado num café nos arredores de Paris.
O cheiro de mar, esse drink colorido e feliz,
essa angústia declaradamente sartreana,
Essas garotas que passam com suas motocicletas,
Tudo isso é, de longe, a espera que existe
Entre a morte do japonês e a minha.
Gostaria de viver sem dar trégua à essa ânsia,
Conversar um pouco com a criança que lutava contra monstros,
Recuperar a dose de fé que me levava adiante.
É tarde. Preciso ir embora.
Escreverei alguma coisa parecida com versos,
Cumprimentarei o Porteiro do Inferno,
Não há como dormir se sempre uma luz está acesa...
Sobre a mesa, com certeza, econtrarei alguns comprimidos,
Meus poemas em estilo nipônico, quase hai-kai,
manchas figurativas da existência.
Sou um homem alto, magro, flexível,
Rio muito pouco, fumo, bebo,
Durmo tarde, escuto clássicos alemães,
Estive na guerra e não morri.
Quem morreu foi o japonês.
Preto Moreno
Preto Moreno
Enviado por Preto Moreno em 22/05/2006
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