* PARANÓIA

“memento homo kia es

pulvis et in pulverem reverteris”

um conto, a conta

um canto de fada

um conto de fé

um lamento, uma bênção

um palpite, uma crença

uma reza qualquer

um ponto, uma ponte

uma vida, um vidente

uma lida, uma lenda

um ponto de vista

uma pista, uma lista

um bezerro bizarro

um nó na garganta

é o fim da avenida

é o corvo, é a curva

o lamento, a lembrança

peassaba, mensaba

alguidá, bacabeira

um côfo de palha

um feixe de lenha

bicho de laranjeira

o vento, o tento, o tempo

é a rima que rema

é a rama, é o lodo, o engodo

é o luto, é a lenda é a lama

é a lei, é o leigo, o mato e o medo

é o drama e o trauma, é a trama

é a fila pra morte, é a cara de fome

é a falta de sorte, a cachaça

a trapaça, a fumaça, o andaime

uma casa, um casaco

uma casca e um caco

uma bala, um barraco

uma bola e um bolero

uma fraude, um abraço

uma falha, navalha

uma fala que cala

uma flecha, uma flor

um jazigo, uma dor

uma audácia, uma aldeia

um juiz na cadeia

um conto de fada

uma linda sereia

fleuma, frio, frieira

pão, paz, poesia

uma estranha mania

é o ser ou não ser

é o ter o e querer

é o poder, é a perda

é o parvo, o pavor e o pavão

é o lixo, é o nicho

é a tara, o pedaço de pão

é o sangue, o suor e a saga

é o certo, o dúbio e o errado

é a brasa e a brisa, a camisa de força

é a corda, é o nó, é a fôrma

é a força é a forca

é a forca da força

é a rota é a roda

é a Terra que gira

gerindo, girando

é a roda é a rota

é o juízo final

no começo de tudo

o mundo é assim

um poema banal

sem início

e sem fim.

publicado no livro REVERSO" do autor.

João Nery Pestana
Enviado por João Nery Pestana em 23/05/2006
Código do texto: T161444