* PARANÓIA
“memento homo kia es
pulvis et in pulverem reverteris”
um conto, a conta
um canto de fada
um conto de fé
um lamento, uma bênção
um palpite, uma crença
uma reza qualquer
um ponto, uma ponte
uma vida, um vidente
uma lida, uma lenda
um ponto de vista
uma pista, uma lista
um bezerro bizarro
um nó na garganta
é o fim da avenida
é o corvo, é a curva
o lamento, a lembrança
peassaba, mensaba
alguidá, bacabeira
um côfo de palha
um feixe de lenha
bicho de laranjeira
o vento, o tento, o tempo
é a rima que rema
é a rama, é o lodo, o engodo
é o luto, é a lenda é a lama
é a lei, é o leigo, o mato e o medo
é o drama e o trauma, é a trama
é a fila pra morte, é a cara de fome
é a falta de sorte, a cachaça
a trapaça, a fumaça, o andaime
uma casa, um casaco
uma casca e um caco
uma bala, um barraco
uma bola e um bolero
uma fraude, um abraço
uma falha, navalha
uma fala que cala
uma flecha, uma flor
um jazigo, uma dor
uma audácia, uma aldeia
um juiz na cadeia
um conto de fada
uma linda sereia
fleuma, frio, frieira
pão, paz, poesia
uma estranha mania
é o ser ou não ser
é o ter o e querer
é o poder, é a perda
é o parvo, o pavor e o pavão
é o lixo, é o nicho
é a tara, o pedaço de pão
é o sangue, o suor e a saga
é o certo, o dúbio e o errado
é a brasa e a brisa, a camisa de força
é a corda, é o nó, é a fôrma
é a força é a forca
é a forca da força
é a rota é a roda
é a Terra que gira
gerindo, girando
é a roda é a rota
é o juízo final
no começo de tudo
o mundo é assim
um poema banal
sem início
e sem fim.
publicado no livro REVERSO" do autor.