DEVANEIO

às vezes, um desvario insólito

absorve-me o pensamento

uma vontade incontrolável

derrama-se de minhas mãos

qualquer coisa inexplicável

inebriante como o arrebol

faz-me sentir a extensão

dos eus que vivem em mim

meu pensar inútil e inexato

conduz-me ao inacessível

num ponto eqüidistante

entre o real e o devaneio

face a face, olhos e sonhos

reconheço-me em todos

e numa indizível espiral

caminhamos submissos

na incerteza desconexa

dos nossos existires.

João Nery Pestana
Enviado por João Nery Pestana em 24/05/2006
Código do texto: T162154