A CIDADE VISTA DO ALTO

Do ponto alto

como da montanha que não existe

neste lugar

é como se colocasse uma lupa nos olhos

e visse as cores borradas das

formigas correndo ao redor do formigueiro

de dentro dos automóveis do ano

abrindo as veias cinzas

ali embaixo.

É como se visse

de perto o movimento

de homens que compram tudo

no mercado

e outros que se vendem por nada.

Homens que podem viajar de avião pelo mundo

afora

quando quiserem

sem saírem de seus mundos pequenos

(que pra eles são grandes),

mundos que

passam, sempre, apressados

sem tempo para notar os filhos que possuem,

a esposa que possuem,

homens que vivem na cidade e se

acham grandes

por demitirem seus funcionários

e terem um salário acima de quatro mil reais,

homens

que não sabem dividir nada com ninguém

mas, somente somar, homens

que muito menos sabem o que é

possuir um amor sem uso do dinheiro,

homens que desprezam outros iguais a eles

porque

acham que é

bonito ignorá-los.

Homens que têm tudo e não têm nada,

que possuem cabeças podres

e corações podres

que fingem ser como rochas,

homens que são rudes porque

jamais conheceram a calma

e pensam que o rude é normal.

Homens que.

A cidade, sempre,

vista do alto

é como se a negássemos

ou como fingissimos

que ela existe.

Leo Linares
Enviado por Leo Linares em 05/06/2006
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