A CIDADE VISTA DO ALTO
Do ponto alto
como da montanha que não existe
neste lugar
é como se colocasse uma lupa nos olhos
e visse as cores borradas das
formigas correndo ao redor do formigueiro
de dentro dos automóveis do ano
abrindo as veias cinzas
ali embaixo.
É como se visse
de perto o movimento
de homens que compram tudo
no mercado
e outros que se vendem por nada.
Homens que podem viajar de avião pelo mundo
afora
quando quiserem
sem saírem de seus mundos pequenos
(que pra eles são grandes),
mundos que
passam, sempre, apressados
sem tempo para notar os filhos que possuem,
a esposa que possuem,
homens que vivem na cidade e se
acham grandes
por demitirem seus funcionários
e terem um salário acima de quatro mil reais,
homens
que não sabem dividir nada com ninguém
mas, somente somar, homens
que muito menos sabem o que é
possuir um amor sem uso do dinheiro,
homens que desprezam outros iguais a eles
porque
acham que é
bonito ignorá-los.
Homens que têm tudo e não têm nada,
que possuem cabeças podres
e corações podres
que fingem ser como rochas,
homens que são rudes porque
jamais conheceram a calma
e pensam que o rude é normal.
Homens que.
A cidade, sempre,
vista do alto
é como se a negássemos
ou como fingissimos
que ela existe.