CARTA A BOCAGE

Eu que amo a poesia quase entendo

como afogaste a alma em dor tamanha

na pele de um boémio te escondendo

iludindo uma plebe assaz tacanha

Demais sublime a tua poesia

de estro maior que o seu entendimento

caluniada foi por heresia

enorme se igualando ao teu tormento

Pudera ter-te ao tempo conhecido

que afagos mil de mãe eu te daria

e dos teus olhos brilho tão sofrido

com o fulgor dos meus alegraria

Poeta de talento entusiasta

porém de fado gémeo da má sorte

duma vida que foi para ti madrasta

te salvou piedosa a terna morte

E lá onde te encontras nesta hora

vingado da chacota e do ultrage

o derradeiro a rir és tu agora

de quem um dia riu de ti BOCAGE!

(In Antologia Poética da Associação Portuguesa de Poetas - Lisboa - 2005)

Carmo Vasconcelos
Enviado por Carmo Vasconcelos em 15/05/2005
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