Da Lua

Me agarro a causas perdidas

Me entrego a amores impossíveis

Busco a bala perdida

Quando só quero vida.

Confusão suicida

Conclusões espermicidas

Relações parricidas

Amizades Fratricidas

E cada passo leva ao abismo

distante com cheiro de absinto

E eu, que nem gosto de absinto?

Sinto muito por toda essa confusão mental

Essa incapacidade de avaliação

Essa leitura equivocada de tudo e de todos.

Meu código de barras se apagou.

Nele não estava o meu preço

Seria fácil demais

Nele estavam minhas coordenadas.

Hoje, observo os ratos que saem dos bueiros

As baratas que avançam na direção de meus pés quase descalços

Sempre cansados

Desvio do mendigo louco, totalmente roto

E me pergunto, quem é o indigente aqui?

Os livros na estante esfregam na minha cara:

Conhecimento e leitura só trazem sofrimento.

Não leia! Vá à praia, curta as Paineiras, beije na boca

Caia na noite, viva a balada.

Ansiolíticos, hipnóticos, álcool, ervas.

Consuma sua mente.

Torne-se um computador,

Uma Tv

Um rádio: um terminal burro, que apenas defeca informações.

Sem troca, sem interações.

Vamos alimentar os bueiros com ratos e baratas.

Vamos jogar o lixo mal fechado. A indigência precisa comer.

Precisa catar a comida no lixo: é a dignidade que lhe resta.

Caçadores de seus próprios alimentos.

E eu ouço Thelonious. Why Monk?

E eu ouço Tom Waits. Why Waits?

Wait for me, my misery.

Preciso de sapatos novos

Colo, cafuné e uma boa foda.

Preciso de menininhos deslumbrados

Que não perguntem nada.

Apenas me sirvam, me sirvam, me sirvam.

Meus servos

Meus escravos

Com seus cravos, espinhas e ar adolescente.

O vôo de Ícaro.

A poeta se esfacelou no asfalto.

O letrista poetizou, sinalizando a opção por virar estrela.

Diz que optando por dançar, viramos constelação.

Constelações são estrelas.

Estrelas são astros que tiveram luz própria

mortos há séculos e séculos atrás.

Luz falsa, ouro de tolo.

E os cavalos passam por cima de nós

A poeira levanta

E saímos ilesos.

Somos ilusões.

Cerveja, cachaça, red label.

Trepada, Ressaca, Luz ofuscante na calçada.

Vamos meu anjo,

Fazer amor até amanhecer.

Vamos meu sacana

Fuder até a noite morrer.

Vamos meu nego

Trepar até adormecer.

O sol não brilha para mim.

O astro rei me diz

E eu já sei

Sou posse da lua.

Por isso ando nua,

Sou carne crua

Apodrecendo ao luar.

Mas sempre sua.

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