MINHA DOR COMPANHEIRA

Deixo-me companheiro dessa dor antes esquecida

Trazida pelos verbos da noite (desassombraram-me).

Por vezes, antes do sono são meus únicos carinhos

Sibilando como canto de passarinho em belo trinado.

Se for a solidão mensageira, não me desaconselha

Apenas refaz meu juízo como medida de compaixão.

Como amante enciumado enxergo amantes em poesia

Todos como num repente, repetem-na companheira.

Da ilusão de vítima da humanidade é criadora única

Se passageira, atribula-me como farsante enamorado

Da vida em estado de permanente comunhão festeira

Retribuo-lhe como arrancar espinhos da flor querida.

Dor, minha paixão que evoca versos sem muitas rimas

Não és continua para saber-me vivo n’outros instantes

Porque a mim foste fiel como balança que visa a vida

Ensina-me o amor que me envolve e a paixão passageira.

Jose Carlos Cavalcante
Enviado por Jose Carlos Cavalcante em 16/05/2005
Código do texto: T17299