CEMITÉRIO DAS PALAVRAS

Há aquelas de beleza eterna como o bronze

Outras feitas de leveza etérea como a pluma

E tantas são afeitas à guerra, tal qual o escudo

Canhão

Infantaria

Não possuem a mesma nobreza de caráter

O mercenário

O desertor

Existem ainda aquelas que subsistem por não encontrar

Substitutas que lhe equivalem

À guisa de saudade

Todavia, não ouvir-se-á repercutir pelos becos

Que um fulano qualquer osculava a vizinha

Às seis da tarde

Tampouco que claudicava a mocinha

À espreita da ligação que não veio

Não haverá viv’alma

A decifrar os enigmas de um códice

Não existirão mulheres ostentando

Em meio a olhares de inveja fúcsias nascidas

Das mãos de um ourives cuidadoso

Não cavalgarão valorosos ginetes a campear

O horizonte infinito das pradarias

Porque as palavras um dia hão de fenecer

Hão de fenecer dentro das bocas abertas

Cheias de cinzas e carne em decomposição

E do seu negro húmus outras tantas hão de submergir

Hão de padecer como padecem os homens

Até que uma última voz num último suspiro

As pronuncie, para nunca mais

E sempre

* * *

Glauber Ramos
Enviado por Glauber Ramos em 18/06/2006
Reeditado em 23/06/2011
Código do texto: T178078
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