CEMITÉRIO DAS PALAVRAS
Há aquelas de beleza eterna como o bronze
Outras feitas de leveza etérea como a pluma
E tantas são afeitas à guerra, tal qual o escudo
Canhão
Infantaria
Não possuem a mesma nobreza de caráter
O mercenário
O desertor
Existem ainda aquelas que subsistem por não encontrar
Substitutas que lhe equivalem
À guisa de saudade
Todavia, não ouvir-se-á repercutir pelos becos
Que um fulano qualquer osculava a vizinha
Às seis da tarde
Tampouco que claudicava a mocinha
À espreita da ligação que não veio
Não haverá viv’alma
A decifrar os enigmas de um códice
Não existirão mulheres ostentando
Em meio a olhares de inveja fúcsias nascidas
Das mãos de um ourives cuidadoso
Não cavalgarão valorosos ginetes a campear
O horizonte infinito das pradarias
Porque as palavras um dia hão de fenecer
Hão de fenecer dentro das bocas abertas
Cheias de cinzas e carne em decomposição
E do seu negro húmus outras tantas hão de submergir
Hão de padecer como padecem os homens
Até que uma última voz num último suspiro
As pronuncie, para nunca mais
E sempre
* * *