Preenche-me!

Branco, frio e indiferente,

diz-me com arrogância o papel,

como a me desafiar para um duelo

do qual vislumbra-se, como sempre,

eterno e imbatível vencedor.

Preenche-me,

inda que com as tuas

costumeiras pieguices;

quer seja com os teus

bizarros desabafos, rabisca-me!

Suja-me com os teus vernáculos

por todos já conhecidos

e de puro mau gosto.

Maltrata-me com as tuas

redundâncias e envergonha-me

com os teus erros grassos,

vilipendiando, ainda,

o teu já sofrido idioma.

Preenche-me,

pois pior que os teus desvarios

é subtrair-me o prazer;

é não me romper o hímen,

tingindo de púrpura

toda essa alvura

hipócrita e untada de prazer...