EXEGESE

Não é somente da rosa-flor

Perfume-rosa, rosa augusta de

Perfilados dentes alvos

Que se colhem palavras para a

Composição do poema

(palavras densas de açúcar como o são

as passas estragadas; palavra-confeito

que se desfaz na boca, espraiando-se

pelas glândulas salivares)

Reter a paisagem, descobrir

O vocábulo entranhado no coração

Dos monturos, a palavra inservível

Presa de si mesma

Verbo em decomposição, destilando

Odores de metano

Esperar a noite, o cair da noite

O desenlaço de suas pétalas noturnas

E das sombras ver surgir

Seu tropel de criaturas segregadas

Vinde palavras prostitutas, ébrias,

Indigentes, viciadas de toda espécie

Escutai o bater de asas, um anjo

Por ti está em vigília

Ainda que um anjo coxo

Espécie de Quasímodo alado

Adentrai vossa casa, não temeis

Mesmo que edificada sobre o

Moralismo movediço de tratados

E convenções

Repousai na face virgem e alcalina

Do papel

Inaugurai nesta nova pátria inominada

Sob o estatuto do mencionado impossível

O tempo do caos transcendente

* * *

Goiânia, 23 de junho de 2006

Glauber Ramos
Enviado por Glauber Ramos em 23/06/2006
Reeditado em 23/06/2011
Código do texto: T180654
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