Elegia Noturna

Em procissão, o tropel das almas afligidas desloca

O silêncio na noite

Vozes abafadas se encontram e se diluem dentro

[da escuridão

Fazendo pairar no ambiente espécie de cantilena

[fúnebre

Que diziam aquelas vozes em coorte, contidas e

Ao mesmo tempo sedentas de libertação?

Mas somente as pedras nuas sob os pés descalços

É que bebiam de toda dor e sofrimento misturados

Ao amálgama de sangue e suor

No céu, a lua, grande hóstia consagrando

Momento de tamanha perplexidade e horror

(Cá não se tinha o esplendor dos céus da mouraria

e o luar embaçado se refletia sobre aquelas criaturas

que mais pareciam ter o breu da noite no lugar da tez)

O vento frio e seu açoite invisível

Traziam n’alma a saudade das brisas mornas da savana

E de todas as suas criaturas animais e vegetais

Seus destinos, porém,

Agora atracados em tristes plagas

Entoavam uma última súplica de comiseração:

Deus, em que infinito se escondestes que não vês

tão horrenda barbárie a nós infligida?

Mas todos os arcanjos dormiam

Enquanto a noite impunha seu silêncio de chumbo

A marcha dos aflitos seguia rumo incerto

Amarrados uns aos outros pelos grilhões da humana

[crueldade

Os olhos voltados para um céu onde reluziam

Frágeis esperanças sob o brilho fátuo

De centelhas estelares

Surpreendeu a noite as primeiras brumas da manhã

E o arrebol, ainda que tinto de sangue destes filhos

[d’África

Seria o prenúncio do novo tempo

E a esperança, antes tão débil criança

Agora teria a beleza e força eternas

Dos gigantes baobás

* * *