Correnteza
O rio vem calmo e sereno
vencendo palmo a palmo o terreno,
sem notar a paisagem maravilhosa,
da humildade do sabiá,
ao império da árvore frondosa.
Não nota em sua passagem
o sorriso da criança que observa,
ao senhor, ao escravo, a serva.
Calmo e sereno desce o rio
calmo e sereno o rio desce
em sua trajetória ignora a paisagem
sem dar a ela o valor que merece.
Calmo e sereno
o rio vem descendo.
Calmo, sereno e pasivo.
Eis que, de um só momento,
eles se torna rápido e ativo.
Reúne as forças que lhe dá a correnteza
e leva a humildade do sabiá,
a orgulhosa árvore frondosa,
leva o sorrido da criança,
o senhor, o escravo e a serva.
Agora, num misto de ódio, humildade, orgulho
o rio olha, vê e observa.
Rio de Janeiro, 15/08/1978
Resgatando poemas de um antigo caderno.