Filhos da injustiça
Caminhando vagarosamente
Aponta-lhes um triste fim,
Passam as horas rapidamente
Enquanto se arrumam no camarim.
Serão eles os artistas
Desta árdua empreitada,
Palhaços e transformistas
Desta peça fria e enlutada.
Levantam-se as cortinas
Sobre o palco as luzes,
São meninos e meninas
Entre espadas e suas cruzes.
Representam as pobrezas
Perdidas em tantas ruas,
Transformadas em tristezas
Com suas faces rudes e nuas.
Encenam suas próprias vidas
Atiradas sem dó ao acaso,
Estátuas tristes e esculpidas
Na madeira fria do descaso.
São os filhos tão prematuros
Correndo um risco de morte,
Encostados contra os muros
Atirados a sua própria sorte
Lentamente desce agora os panos
Cerrando-se as portas do teatro,
Passarão não se sabe quantos anos
Para representarem o seu último ato.