Meu corpo, teu deserto (1996)
Sonhei contigo e foi na outra noite
Eu era o deserto - meu próprio açoite.
Até meus oásis tão sós morriam,
Minha pele como as areias ardiam...
Ias perdido da imensidão de mim,
Vagavas nas ondas do nada sem fim...
Entre a extensão das planuras
E sinuosas curvas, em alturas,
Emergiste, em toques e desvelos,
Desenhando-me poros e pelos...
Deitaste teu corpo, beijaste as dunas,
Bebeste de mim em doces lagunas...
Sobre cumes, harpas dedilhaste,
Sob o sol de brasa, tu te fartaste...
Sem escuna, navegando areias,
Teu corpo, oásis em minhas veias,
Fez-me porto da tua sede e fome,
Brotou a seiva sob árvores sem nome.
Sequioso, bebeste nas minhas fontes;
Desperta, a fêmea cruzou horizontes.