O tudo do nada

Sinto o corpo pesado, uma massa inerte no ar. Nada me toca aqui. Tenho medo de abrir os olhos e descobrir onde estou.O silencio inundou meus ouvidos com sua placidez que nem tenho certeza se ainda vivo estou. Minhas pálpebras tremem querendo se abrir. Ainda não digo eu. Tenho perdido a coragem de encarar qualquer coisa nova que me seja oferecida. Mas a vontade é insistente e testa meu poder de decisão. Poder este que nem sabia eu ter. Logo não o tenho e respeito a decisão da vontade. Abra-se os olhos então. Tudo preto, escuro como pintam a morte desde tempos antigos, estou eu no limbo ou lugar semelhante? Creio que não, pois acabo de sentir as pálpebras tremerem novamente. Meus olhos continuam fechados mesmo eu ordenando a eles para que se abram. Não há energia, força que se move através de meu corpo e que seja capaz de me deixar ver. Sinto o medo elevar a voz, crescendo de um singelo sussurro à um grito de desepero. A boca se abre, mas o som que imagino no meu cérebro não se projeta para fora de mim. É nesse grito que recobro minhas forças e arregalo os olhos para algo que eu preferia não ver. Estou numa imensidão branca. Não há chão, paredes ou qualquer coisa aqui. É como se o nada tivesse se apossado do tudo e feito imperar o seu vazio agorafóbico. Aqui não respiro, não falo, não me movo. Sou uma pedra a preencher o grande nada me tornando assim, o tudo daqui.

Juliano Rossin
Enviado por Juliano Rossin em 11/10/2009
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