As Três
As Três
É pelo átrio que fujo.
É para lá que eu vou.
Incerto o destino que acuso
àqueles todos que sou.
Gera a vaga o turbilhão
Giro vago p'la corrente
Já não basta o que são
Marés bravias ou gente.
É pálido o reflexo
E longe está a margem
À margem de todo nexo
Que passe a vida, que passe!
Se até o vazio que vigora
Indifere sobre o tormento
Que a minha alma assola,
Que finde-se o firmamento!
Pois que de outrora caladas
As vozes ecoam agora
Não por acaso regala
O ocaso dentro da aurora
Não aurora como a vemos
Mas a aurora d'outro céu
Cujas correntesas no tejo
Desaguam sua luz cor-de-mel
Ó cinco pontas celestes
Que dez sois em dois braços
Flor carmínflua de hastes
Esguias de carne, de laços.
Co'isso em mente fujo
Do presente, do amante
Da amante, do futuro
Do constante, do ausente.
Ausente fio de navalha
Em pele límpida, alva, delgada..
Das não-cicatrizes gargalha
A não-lâmina encarnada:
Corta o rio
Corta a sebe
Corta o cio
Corta a rede
Do deitado
O coitado
Que melindra
Um trocado
Do outro lado
Do ensejo
Do desejo
De avistá-lo
Nem que úmido
Nem que seco
Nem que pútrido
Abastado
Mas regado -
Regalado -
Pulpitado
Peito a peito
Esgotado
Ainda rico
Ou emplumado
O avesso
Atravessado
De travesso
Vai alado
lado lado
dentro fora
Tudo sendo
Percorrendo
Lento lento
O acalento
Do teu lábio.