As Três

As Três

É pelo átrio que fujo.

É para lá que eu vou.

Incerto o destino que acuso

àqueles todos que sou.

Gera a vaga o turbilhão

Giro vago p'la corrente

Já não basta o que são

Marés bravias ou gente.

É pálido o reflexo

E longe está a margem

À margem de todo nexo

Que passe a vida, que passe!

Se até o vazio que vigora

Indifere sobre o tormento

Que a minha alma assola,

Que finde-se o firmamento!

Pois que de outrora caladas

As vozes ecoam agora

Não por acaso regala

O ocaso dentro da aurora

Não aurora como a vemos

Mas a aurora d'outro céu

Cujas correntesas no tejo

Desaguam sua luz cor-de-mel

Ó cinco pontas celestes

Que dez sois em dois braços

Flor carmínflua de hastes

Esguias de carne, de laços.

Co'isso em mente fujo

Do presente, do amante

Da amante, do futuro

Do constante, do ausente.

Ausente fio de navalha

Em pele límpida, alva, delgada..

Das não-cicatrizes gargalha

A não-lâmina encarnada:

Corta o rio

Corta a sebe

Corta o cio

Corta a rede

Do deitado

O coitado

Que melindra

Um trocado

Do outro lado

Do ensejo

Do desejo

De avistá-lo

Nem que úmido

Nem que seco

Nem que pútrido

Abastado

Mas regado -

Regalado -

Pulpitado

Peito a peito

Esgotado

Ainda rico

Ou emplumado

O avesso

Atravessado

De travesso

Vai alado

lado lado

dentro fora

Tudo sendo

Percorrendo

Lento lento

O acalento

Do teu lábio.

Gravor di Saint Danielt
Enviado por Gravor di Saint Danielt em 12/10/2009
Código do texto: T1861899
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.