Aniversário

Era um dia como outro qualquer

O sol lá estava, redondo e luminoso como noutro dia qualquer

As árvores que rodeavam a minha casa continuavam a crescer como noutro dia qualquer

A pequena ave fazia o seu voo em circulo no ar como noutro dia qualquer

Os mesmos edifícios, as mesmas ruas, os mesmos sinais de trânsito como noutro dia qualquer

Num lapso de momento

Viajei no espaço e no tempo, teletransportado

E eu estava ali, mágica e matematicamente no meio da cidade

Um poderoso silêncio se apoderou de mim

Não me mexia e não sentia

Os meus olhos despertaram para fora das órbitas

O meu cérebro ficou pesado como que empurrado por um golpe de deus

Todo o meu corpo dilatou como se todas glândulas quisessem gritar

O coração aos solavancos dizia arrebentar

E o meu eu e todo de mim ...parou quando vi num relâmpago a vida que se acercava de mim

E vi

Um carro sem rodas circulando no ar

Um painel electrónico substituindo papel

Um político a falar e a história andar

O meu amigo manel que tanta sorte tinha dado

Era agora um reformado

Os anjos que eu conhecia de tenra idade

Vi-os Velhos e podres de idoneidade

O meu pai morto de idade

A minha mãe sem fecundidade

E a minha alma sem felicidade!

Gritava, feroz, por saudade!

Mas eu ainda estava cá

Uma rapariga passou e disse-me : Olá

Tocou o telemóvel:era o meu filho a dizer-me papá!

Naquele lapso de luz que é uma visão

Cresci!

Dos meus olhos saltou uma nova cidade com sentido e razão

A minha mente recuperava a normal pressão

E o meu corpo ganhava naquele momento um novo alento

Um carro com rodas apitou!

Ainda naquele ponto da cidade, naquele dia como outro qualquer

Olhei para o calendário

E sorri!

Afinal era um dia feliz

como quando era petiz

Era o dia do meu aniversário

Constantino Mendes Alves
Enviado por Constantino Mendes Alves em 11/07/2006
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