E tanto de mim  escorreu pelos vãos das coisas vãs
Que pouco resta para amanhã...
Talvez um sorriso amarelo
Talvez uma lágrima solitária
Sinto que me esfarelo
As palavras já não são necessárias
Há muito deixei meu porto
E navego sem rumo, sem direção
Dos poetas, sou um aborto
Tendo o que sobra no coração
E muita coisa não sobra
Um verso triste talvez
Por que a vida tanto nos cobra?
Se ainda não chegou a nossa vez?

Entre rimas mal construídas
Sou o abstrato do rascunho
Das páginas esquecidas
Faço a leitura da minha vida
Cerro os olhos, a alma e o punho
Meu poema é o testemunho
A voz da garganta ressequida

E tanto de mim escorre assim,
pelos vãos dos dedos desalinhados
A poesia que flui de mim...
É apenas um emaranhado de palavras vãs
Que não têm a certeza
Que despertarão num novo amanhã