LA GUANTANAMERA¹

“Yo soy un hombre sincero

De donde crece la palma,

Y antes de morirme quiero

Echar mis versos del alma”

(José Martí – Versos Sencillos, 1891)

“Yo sé porque lloras

Nunca es fácil tomar la decisión

Alguien te hace falta en la mañana

Y a alguien le rompiste el corazón”

(Herbert Vianna – La Estación)

A Nicolás Guillén²

Salto de lebre no verde delgado das canas

No ar a serpente olorosa que recendia

De suas formas trigueiras ao sol do Caribe

Os cabelos em mansas ondulações

Como um rio secular de profundas águas negras

Que guardam fios de navalha em seu íntimo

Guajira guantanamera!

Por ti estes versos escoaram

Para além das praias crioulas

E tantos foram os que para ti cantaram

Que de tão longas épocas muitos já partiram

E quão diversificada natureza de acordes entoaram

Que ainda hoje se escutam os vibratos

Daquela última sonata

Campesina do Guantánamo

Soubesse Deus de suas lágrimas entrecortadas

No escuro mais recôndito do quarto

Certamente ele haveria de apagar

O tremeluzir da noite clara

Soubesse o poeta, guajira

Da tristeza que enevoa sua fronte

Haveria de ressuscitar palavras

Cuja beleza mortal condenaram-nas

À sacra chama purificadora dos homens

Para compor, ainda que por um riso efêmero

Um verso que amainasse

Vosso dormente coração

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¹La Guantanamera: diz-se da mulher natural da província do Guantánamo, Cuba. “Guajira guantanamera” significa camponesa, ou campesina, do Guantánamo. Atualmente, essa província serve de base militar para os EUA, onde estão presos, dentre outros, integrantes do famigerado talibã afegão.

²Nicolás Guillén (1902 – 1989): poeta cubano. Um dos principais expoentes da poesia negra do seu país.

Glauber Ramos
Enviado por Glauber Ramos em 16/07/2006
Reeditado em 17/07/2006
Código do texto: T195221